segunda-feira, 28 de março de 2011

Madrugada Moderada

No meio de toda aquela confusão, pessoas, carros e motocicletas seguiam com os seus destinos, quase que majestosamente destinados a um fim, sem fim. Enquanto a pressa acelerava cada vez mais o tardar da noite, a incerteza inflava em um peito, ali, não muito distante. Só a adrenalina gerada ao pensar em conseguir conquistar aquele ideal, naquela hora, era perigosa o bastante para querer fazer voltar atrás. Era tarde demais, e apenas o início de uma noite emocionante. E no meio do caminho, no vai e vem dos acontecimentos, tudo havia dado errado, e certo ao mesmo tempo.

Qual seria o lugar ideal para se presenciar a concepção da felicidade? Um lugar vazio e cheio ao mesmo tempo, talvez. Vazio em espaço, e cheio de expectativas. E o que era vazio, logo foi preenchido com amizades verdadeiras, acompanhadas por uma leve chuva passageira, que apesar de mal interpretada por alguns, tinha a clara e cristalina impressão de estar tentando unir a todos ali presentes. E conseguiu. Na adormecência da noite, as coisas ainda fluíam devagar, assim como o restante dos pensamentos embaralhados, e ainda não digeridos, que sobraram de todos aqueles dias novos e complicados da semana inteira. O som sujo e vulgar embebedava aquele local e a todos em sua volta. Desconhecidos, indefinidos, definidos e decididos era o público que compunha o recinto. E finalmente quando a madrugada acordou preguiçosa, a chuva foi embora satisfeita e uma nova música abrilhantou com luminescência.

Uma voz suave e feminina enfatizava sentimentos e emoções reais, vividas em um dia qualquer e corriqueiro, tornava aquele momento especial. Os traços de sua beleza exótica eram harmoniosos, tanto a própria forma, quanto ao som. Os trajes que cobriam aquela pele branca e delicada, a maneira como o seu corpo fluía com as reverberações dos alto-falantes, a boca simples que vez por outra deixava escapar expressões de impulso esteticamente artísticas, juntamente com aqueles olhos quadrados e claramente desinibidos, apenas ali, naquele momento de explosão sublime, visual, sonora e espiritual. Todos os instrumentos ali contidos naquele conjunto musical tinham uma especificidade delicada e diferente, e mesmo assim, cada palavra era entendível. E aquele peito, que mais cedo da noite não parava com tantas incertezas, agora estava totalmente hipnotizado, jorrando energias de felicidade em sintonia com o conjunto daqueles sons. Da voz deusificada, em especial.

Mas a felicidade, assim como tudo na vida, é coisa passageira, como o prazer final de um ato sexual, como o desfecho de um ato teatral, como o término de uma obra artesanal. E ela foi assim, surpresamente embora, bem no meio da madrugada. E apesar do fim, não era o fim afinal, a noite seguia agitada, embora para ele já tivesse sido suficientemente agradável. E aquele peito se conformou com a idéia de que provavelmente aquela voz jamais seria sua, algum dia. Então decidiu perambular por ai, cidade a fora, com o vento, acompanhado por fora, mas sozinho por dentro.

2 comentários:

Cantin/ Iolanda Gomes disse...

Tô boquiaberta aqui com a intensidade da tua pena. O equilíbrio perfeito entre a ousadia e a simplicidade da forma...
Parabéns!
:*

Unknown disse...

Ow, vlw. Queria ter sempre inspiração pra escrever assim ^^